PORQUE UMA MULHER SEM ÚTERO PRECISA DE PROGESTERONA
Sou frequentemente questionado acerca deste assunto pois as doentes são ensinadas pelos Ginecologistas que após uma histerectomia a progesterona deixa de ser necessária. Isto é sui generis pois este dogma não é suportado pela fisiologia, pela bioquímica e muito menos pela endocrinologia. Limitar a utilização da progesterona às mulheres com útero é uma atitude redutora pois ignora os dados científicos que mostram que a progesterona tem um efeito benéfico nos outros tecidos, nomeadamente na mama. Foram identificados receptores para a progesterona em quase todas as células do nosso corpo; portanto ela tem acção por todo o organismo.
Pior, é confundir a progesterona (hormona produzida pela nossa espécie) com progestinas – produtos sintéticos diferentes da progesterona, e como tal não reconhecidos pelo organismo. Destas, a mais vulgar e mais prescrita é o acetato de medroxiprogesterona que tem precisamente efeitos opostos aos da progesterona endógena. Desta forma não será surpreendente o aumento de cancro da mama e da doença cardiovascular entre as mulheres que tomam progestinas. Esta é a principal razão porque a terapia hormonal de substituição é temida e prescrita com o horizonte temporal de 5 anos. A progesterona, ao contrário, tem efeitos anti-proliferativos portanto anticancerígenos. Mais uma vez vou explicar sucintamente aquilo que devia estar adquirido por todos os profissionais de saúde: os estrogénios fazem crescer os tecidos e a progesterona controla esse crescimento. Quando a mulher entra no climatério começa a produzir menos progesterona (nos ciclos anovolatórios produz zero) e na menopausa a sua produção ovárica é nula. Mas como ainda produz estrogénios – embora apenas cerca de ⅓ do que produzia nos anos férteis – há uma predominância deste em relação à progesterona, fenómeno conhecido como dominância estrogénica e que pode conduzir ao aparecimento de cancro genital e da mama. Embora ligeiramente diferente, este fenómeno também acontece nos homens: como com o passar dos anos o homem produz mais estrogénios a partir da sua testosterona (chegando nalguns casos a ter mais estrogénios que as suas parceiras em menopausa) há uma dominância estrogénica que pode iniciar a cancerigenação da próstata. Baseados nestas diferenças entre progesterona e progestinas, os autores do maior estudo hormonal, o estudo PEPI de 1995, concluem que “deveria ser dada progesterona a todas as mulheres”, embora segundo a corrente médica vigente esta declaração devesse ser “deveria ser dada progesterona a todas as mulheres excepto às que não têm útero, mamas ou sistema cardiovascular”. Outra preocupação é o facto de muitos profissionais de saúde ignorarem a acção osteoformadora da progesterona, mantendo a ideia absurda e anti-científica de que a osteoporose menopaúsica é da exclusiva responsabilidade do decréscimo dos estrogénios. É não perceber porque é que pouco após a menopausa já é notória uma osteopenia acentuada: é o fruto de vários anos de insuficiência em progesterona. As progestinas só agravam esta situação. Mas também é caricato o facto de frequentemente ser consultado por mulheres a quem foram prescritas progestinas e às quais se requisitaram análises contendo o doseamento de progesterona. Dá-se alhos, e pede-se bugalhos. Sejamos inteligentes: a natureza na sua evolução é bem mais sábia do que nós. Como diria um colega com muito senso de humor: “as pessoas são muito resistentes, até resistem aos médicos”!