Neste dia, parece-me importante fazer um ponto de situação no que à diabetes concerne. Excluindo as outras formas de diabetes por representarem uma pequena percentagem, centremo-nos na diabetes tipo 2 que é uma verdadeira epidemia de proporções bíblicas. Nesta doença, ao contrário da diabetes tipo 1 em que há falta de insulina por lesão da célula beta do pâncreas, há um excesso de insulina. Este excesso leva à obesidade – de predomínio central – e às alterações patológicas decorrentes de elevada insulinemia, nomeadamente alterações na oxidação das lipoproteínas – vulgo mau colesterol. Numa acção de preservação da vida a célula vai ficando cheia de nutrientes e resiste à ordem da insulina para admitir mais “comida”. O pâncreas aumenta a produção de insulina, a qual vai forçando a célula a admitir a entrada da glicose, até ao ponto de não retorno e à morte celular. Mas qual é a origem desta patologia e porque é tão difícil o seu tratamento e cura? Sempre que ingerimos hidratos de carbono estes transferem a sua glicose (açúcar) para a corrente sanguínea. A elevação desta no sangue leva à produção de insulina, a qual “força” a sua entrada na célula. Uma vez dentro, parte é gasta para fabricar energia, e parte armazenada quer sob a forma de glicose, quer sob a forma de triglicéridos (gordura) os quais são aterogénicos, isto é, capazes de promover a doença cardiovascular, que tanto mata! Com o tempo. a parte armazenada sob a forma de glicose, não sendo gasta, vai caramelizar conjuntamente com as estruturas proteicas celulares e transformar-se nos AGE (produtos avançados da glicação), que são destrutivos para a célula e a melhor determinação do envelhecimento celular acelerado e precoce. A produção de insulina está dependente quer da quantidade, quer da velocidade de entrada no sangue da glicose dos alimentos. Facto é que actualmente não nos mexemos o suficiente para gastar as quantidades absurdas de hidratos de carbono refinados que ingerimos – na maior parte dos casos sem querermos e sem sabermos que eles estão lá. Isto tem conduzido a um aumento exponencial de que não há memória, de diabetes, doença cardiovascular, AVC (vulgo trombose cerebral), hipertensão arterial, cancro e obesidade. E não adianta pensar que tudo vai ser resolvido pela medicina e pela indústria farmacêutica, porque não é verdade! Um grande estudo – UKPDS – sobre a diabetes e o seu tratamento, chegou à conclusão que faça o que se fizer do ponto de vista da terapia farmacológica, mesmo controlando os valores do açúcar no sangue, os resultados a prazo são sempre maus. Ou seja, estas doenças civilizacionais dos tempos modernos só se podem tratar com força de vontade que implique alimentação ancestral e exercício físico. Quando fazemos exercício, gastamos quer a glicose, quer a gordura armazenadas, dando lugar a uma fantástica melhoria da resistência à insulina e, consequentemente, da diabetes. Há que expor alguns mitos:
· # Na diabetes tipo 2 há lugar à ingestão de hidratos de carbono de elevado índice glicémico como açúcar, doces, pão, batata, massa e arroz. Isto é um mito;
· # Os diabéticos podem comer bolacha Maria ou de água e sal. Isto é um mito;
· # Os diabéticos devem comer muitas vezes ao dia. Isto é um mito. Mais do que 3 refeições por dia leva à anulação da 1ª fase de secreção pancreática da insulina, o que é uma característica da diabetes;
· # Os diabéticos não devem comer fruta. Isto é um mito. Embora vital e necessário, apenas aconselho 1 peça de fruta às refeições;
· # Uma alimentação proteica pode lesar o rim e não deve fazer parte do menu dos diabéticos. Isto é um mito. A restrição proteica só faz sentido nos doentes com insuficiência renal. Devemos consumir entre 1-5 a 2 gramas de proteína por cada quilograma de peso corporal. Para um adulto com 60 quilos, será cerca de 90 a 120 gramas, ou seja, cerca de 500 a 600 gramas de carne, peixe ou marisco por dia;
· # A gordura, nomeadamente a gordura animal, representa um perigo pois pode levar à cetose diabética. Isto é um mito. A gordura é saciante e necessária. Basta pensar que o leite humano é vital e recomendado para os bebés, e muito bem, e no entanto contém mais de 50% de gordura animal!
· # Os diabéticos podem beber sumos de fruta, incluindo os feitos em casa. Isto é um mito. A frutose dos sumos aumenta e em muito a disfunção metabólica;
· # Os diabéticos podem beber leite. Isto é um mito. Só se for leite sem lactose, pois caso contrário aumenta a glicemia e consequentemente a insulinemnia;
· # Podemos tratar a diabetes sem efectuar exercício físico. Isto é um mito. Este é fulcral para permitir gastar os nutrientes intracelulares e melhorar a resistência à insulina;
· # Uma vez diabético, será para sempre. Isto é um mito. Embora não possamos reverter algumas lesões da diabetes, é possível abandonar a doença e parar com a medicação, na maioria dos casos.