O JEJUM E A GORDURA
Após o meu debate na TSF, em 2008, e a série de questões que levantou, haverá muita gente que não sabe o que são os corpos cetónicos, de onde provêm e qual a sua finalidade. Analisemos os objectivos e as prioridades do nosso sistema metabólico par a ver o que acontece. Vou tentar manter a bioquímica no mínimo, portanto não se assustem. O objectivo principal do nosso metabolismo consiste em providenciar “combustível” nas quantidades necessárias e às horas necessárias de forma a manter-nos vivos e a funcionar. Enquanto tivermos alimentos à nossa disposição, o metabolismo trata de os digerir e armazenar. Numa sociedade de abundância como a nossa a tendência para a obesidade é uma constante, contrariamente ao que sempre sucedeu durante a nossa evolução pois alternaram períodos de abundância com outros de fome. Foi assim que a evolução tratou de arranjar sistemas de recurso para as épocas de “vacas magras” – daí a criação da insulina (a hormona do armazenamento). A génese da maioria das razões religiosas para os jejuns está nessa necessidade de “limpar” o organismo de todas as impurezas. O que acontece durante o jejum também acontece parcialmente na restrição de hidratos de carbono.
O nosso organismo em face de hidratos de carbono – mas não só – produz insulina através do pâncreas, e esta leva o açúcar para dentro das células transformando o excesso
Assim, o sistema metabólico – centrado predominantemente no fígado – tem dois problemas para resolver:
· Obter glicose para os tecidos dela dependentes
· Manter ao máximo a massa muscular
A resposta metabólica consiste em reduzir a necessidade de dependência de glucose tecidular de forma a preservar a proteína (músculo). Entram em cena os corpos cetónicos, provenientes da gordura acumulada, os quais geram a energia precisa às funções hepática e muscular. Ora embora os corpos cetónicos sejam um subproduto da gordura acumulada, são hidrosolúveis (significa que se dissolvem no sangue) pelo que podem constituir uma fonte de energia para vários tecidos incluindo os músculos, cérebro e coração. De facto, o cérebro funciona bem com corpos cetónicos quando não tem glicose para produzir energia, e estes conseguem substituir quase por completo a glicose exigida para o funcionamento cerebral. E os corpos cetónicos são a preferência do coração, fazendo com que este funcione com uma eficiência 28% maior.
A gordura é um combustivel perfeito. Parte dela fornece energia ao fígado para que ele possa transformar proteína em glicose, e a porção não utilizável é convertida em corpos cetónicos que reduzem a necessidade em glicose, poupando o músculo. Mas, se em vez de jejuar completamente fizermos uma dieta muito pobre em hidratos de carbono podemos manter o fígado em modo de queima de gordura ao mesmo tempo que mantemos a musculatura – isto é, o melhor dos dois mundos. Então, quanto é o mínimo eficaz? Cerca de 60 gramas de hidratos de carbono por dia obriga o organismo a produzir corpos cetónicos – e portanto a queimar gordura a todo o vapor.
Resumindo, o jejum controlado faz o nosso corpo entrar nas suas poupanças – gordura – enquanto o metabolismo praticamente pouco diminui e a libertação de factores e hormonas do rejuvenescimento é maximizada. Se a isto juntarmos cientificamente o exercício de resistência – marcha vigorosa – então teremos uma queima de gordura corporal muito acelerada, na ordem dos 10 a 20 quilos por mês. Ah, e não se assustem quando às vezes acordam e a 1ª urina cheira a acetona. Significa apenas que o jejum de 12 ou mais horas levou à produção de corpos cetónicos e que estão em modo de queima de gordura. Boas notícias!