04.01.10
MITOS, PUBLICIDADE E ALIMENTAÇÃO INFANTIL
Dr. Luís Romariz
Actualmente é notícia a obesidade infantil. Espalha-se pela juventude e acompanha-se frequentemente de diabetes tipo II. Apesar de serem conhecidos os inimigos, a Califórnia perdeu a batalha de retirar os doces e os refrigerantes das máquinas de venda, nas escolas.
Isto relembra-nos a necessidade de serem os pais a orientar as escolhas alimentares dos seus filhos. Só que a maior parte também não tem conhecimentos de nutrição humana para poder transmitir aos seus rebentos! Por incrível que pareça até os médicos têm uma educação deficiente no que se refere à nutrição. E o pior é que opinam sobre alimentação e as suas opiniões são levadas a sério. “Foi o doutor que disse…” O que podem fazer os pais? Dar o exemplo. O que é saudável para os adultos também o é para as crianças. Hidratos de carbono restringidos ao mínimo – muitos vegetais e muitos frutos – condescendendo um pouco na massa integral, arroz da variedade Basmati, frutos secos e sementes; proteínas de alto valor biológico como os lacticínios (não abusar), os ovos, frango, peru, peixe e bife magro. Abolir completamente os snacks e os doces. Estes e as bolachas devem desaparecer de casa.
Há um número espantoso de mitos sobre alimentação juvenil:
- Desde que o meu filho tome vitaminas diariamente, as suas necessidades nutricionais estão satisfeitas. Embora um suplemento possa ser importante, nada substitui os fitoquímicos naturais contidos nos vegetais e nos frutos.
- Se o meu filho fizer uma alimentação pobre em gorduras será magro e saudável. As gorduras saudáveis – azeite, manteiga, ómega-3 e ómega-6 (na forma de sementes) – são fundamentais para a saúde e para o correcto desenvolvimento cerebral. Os ómega-3 protegem da inflamação silenciosa e o colesterol é a matéria-prima das hormonas esteróides. A ingestão normal de gordura saudável não faz engordar, mas a combinação explosiva de gorduras baratas e frutose está na base da obesidade infantil.
- Um refrigerante por dia não faz mal. A quantidade de açúcar contida numa garrafa de refrigerante é mais do que suficiente para provocar obesidade a médio prazo.
- Se o meu filho quiser ser vegetariano, isso é óptimo pois eu não terei de me preocupar mais. Não é incomum que raparigas adolescentes enveredem por este tipo de dieta alimentar, mas na verdade é uma dieta de qualidade muito pobre. Normalmente optam por comer queijo, hidratos de carbono refinados como as baguetes de pão, massa e batatas fritas, e vegetais. Se o seu filho insistir nesse rumo faça-o comer frutos secos, sementes, lentilhas, feijão e tente incluir ovos na alimentação. A soja é um alimento proibido.
- Não deixo que os meus filhos comam demasiada carne. A carne de pasto não oferece qualquer problema, contrariamente com o que acontece com os frangos de aviário. O problema está no que eles comem com a carne ou como ela é confeccionada – hambúrguer de fast-food, pizza, batatas fritas, bolonhesa – evitando salsicharia e pasta. É perfeitamente saudável um adolescente comer bife, porco, galinha, peru e ovos.
- Desde que o meu filho ingira um copo de leite com a sua refeição, o resto interessa pouco. O leite não é o alimento completo que se apregoa e certamente não pode substituir os ovos e a carne ou peixe.
- Se conseguir que os meus filhos comam fruta, isso já substitui os vegetais. Bom, claro que comer fruta é muito importante mas não podemos prescindir das centenas de fitoquímicos contidos nos vegetais, e estes são pouco doces. Cenouras, brócolos, ervilhas, tomates (é um fruto) e pimentos-vermelhos são insubstituíveis por fruta.